Fraude Bilionária no INSS: PF Revela Esquema com Viagens de Luxo e "Careca do INSS"
Fraude Bilionária no INSS: PF Revela Esquema com Viagens de Luxo e "Careca do INSS"
A Polícia Federal (PF) deflagrou uma das maiores operações de combate à corrupção no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), revelando um complexo esquema de fraudes bilionárias envolvendo servidores, empresários e organizações de fachada. No centro da investigação está Cecília Rodrigues Mota, apontada como presidente fictícia de associações utilizadas para desviar recursos públicos e facilitar a liberação fraudulenta de benefícios previdenciários.
De acordo com os investigadores, Cecília realizou 33 viagens entre janeiro e novembro de 2024, visitando destinos internacionais como Dubai, Paris, Lisboa e Buenos Aires. As viagens, sempre em classe executiva e com hospedagens de luxo, não condiziam com os rendimentos declarados por ela à Receita Federal. A PF acredita que as viagens eram financiadas com dinheiro desviado do INSS, por meio de contratos e repasses ilícitos feitos pelas associações que ela liderava nominalmente.
Durante uma das viagens, Cecília foi flagrada embarcando com sete malas de alto valor, acompanhada de dois assessores, ambos também investigados. Segundo a PF, os acompanhantes eram beneficiários de esquemas fraudulentos que, em tese, estariam incapacitados de trabalhar e recebendo aposentadorias especiais. No entanto, atuavam diretamente na organização criminosa, inclusive acompanhando as movimentações internacionais de Cecília.
Outro personagem central da investigação é Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o "Careca do INSS". Ele é apontado como o mentor por trás da estrutura financeira que sustentava as fraudes. Antunes controlava dezenas de empresas fantasmas e utilizava laranjas para movimentar milhões de reais sem levantar suspeitas. Em março de 2024, uma dessas empresas transferiu R$ 6 milhões para uma conta vinculada a Cecília, além de repasses mensais a outros membros da quadrilha.
As investigações começaram após uma denúncia anônima feita ao Ministério da Previdência, que identificou padrões incomuns em pedidos de aposentadoria por invalidez e pensões por morte, todos vinculados às associações presididas por Cecília. Ao cruzar dados bancários, fiscais e de imigração, a PF montou um panorama detalhado das operações. Foram identificados mais de 2.500 benefícios suspeitos, com indícios de falsificação de laudos médicos, documentos de identidade e registros de óbito.
Em depoimento, um dos laranjas confessou que recebia R$ 3 mil por mês para emprestar seu nome e dados pessoais à quadrilha. Em troca, era instruído a abrir contas bancárias e assinar documentos sem leitura. Muitos dos envolvidos sequer sabiam os detalhes do esquema, atuando como peças descartáveis para mascarar a origem dos recursos.
A PF estima que o prejuízo aos cofres públicos ultrapasse R$ 1,3 bilhão. Parte desse montante já foi bloqueada em contas no Brasil e no exterior, incluindo imóveis de luxo em São Paulo, Rio de Janeiro e Miami, veículos de alto padrão, joias, obras de arte e criptomoedas. A Justiça Federal determinou o sequestro de 48 bens, além da quebra de sigilo bancário e fiscal de todos os envolvidos.
A defesa de Cecília alega que sua cliente é inocente e que as viagens foram custeadas por “doações voluntárias” das associações. Já os advogados de Antonio Carlos negam qualquer envolvimento em atos ilícitos, embora a Receita Federal tenha identificado movimentações bancárias incompatíveis com os rendimentos formais dos réus.
A operação, batizada de "Falsos Benefícios", mobilizou mais de 300 agentes da Polícia Federal em 12 estados. Foram cumpridos 45 mandados de busca e apreensão e 18 mandados de prisão preventiva. A expectativa é de que novos desdobramentos surjam nos próximos dias, com possíveis delações premiadas de integrantes menores da organização.
Especialistas em previdência afirmam que esse tipo de fraude é difícil de identificar devido à complexidade do sistema e à falta de fiscalização efetiva. “É uma verdadeira indústria de fraudes que existe há anos, mas agora começa a ser combatida com mais seriedade”, disse um auditor do TCU. O governo federal prometeu reforçar o controle sobre concessões de benefícios e integrar melhor os sistemas de dados entre INSS, Receita Federal e Justiça Eleitoral.
A sociedade aguarda com expectativa a responsabilização dos culpados e a devolução dos recursos públicos desviados. “Esse tipo de esquema é cruel porque se aproveita de um sistema que deveria proteger os mais vulneráveis”, declarou o Ministro da Previdência. Enquanto isso, a PF continua investigando outras possíveis ramificações do grupo, inclusive conexões com políticos e servidores federais.
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